Não me lembro há quanto tempo não vou ao cinema. Não me lembro sequer qual foi o último filme que fui ver.
Dito isto, atenção, adoro cinema. Adoro bons filmes e a Sétima Arte é, de longe, a minha favorita. É para o cinema em si que eu não tenho pachorra.
Senão vejamos: existe sempre alguém que come pipocas. Isso até é tolerável (embora não goste). Mas depois existe sempre alguém que fala a meio do filme. Baixinho que seja. E um telefone que toca. E um dos anormais que fala a mandar o outro calar. Isto sem falar do chuac chuac meloso que denuncia o casal de namorados na fila de trás. And so on...
Podem achar este cenário um pouco exagerado. Militante de uma certa rigidez. Talvez.
A verdade é que eu gosto mesmo muito de cinema. E quando vejo um filme quero entrar em transe. Quero ouvir todos os sons e ver todas as imagens. É para isso que eu lá estou. Por isso é que a sala é escura e o ecrã é tão grande.
Mas isto não pára por aqui. Noutros locais que juntem estes dois ingredientes em questão, muita gente e necessidade de civismo, a coisa rebenta sempre para um dos lados. Querem exemplos? Existem-nos ao magote em diversas salas de estudo por esse país: em espaços de silêncio, mas há sempre alguém que pensa que o estudar em grupo não faz mal "porque até falam baixinho" (o que pelos vistos não difere de NÃO FALAR DE TODO), e que de qualquer maneira estão-se bem marimbando para o estudo, só estando ali porque é onde estão os amigos todos, ou porque está lá uma qualquer Ana, Maria ou Antónia...
Thomas Malthus vaticinava o excesso populacional como o problema central da sociedade. In extremis previa mesmo uma altura em que a população mundial crescesse de tal forma que deixaria, pura e simplesmente, de haver espaço na terra para tanta gente.
Naturalmente, críticas foram apontadas a Malthus, a mais pertinente das quais sendo que as suas teorias não tomaram em conta o processo tecnológico.
Por exemplo: no que toca à falta de espaço, não se lembrou de algo que hoje é tão simples como a construção em altura.
Pois eu reavivo Malthus por uma cultura de civismo. Eu acho que o problema não é o aproximar da barreira da impossibilidade física de vivência conjunta. Acho que o problema é o já se ter ultrapassado a barreira da vivência social conjunta.
Naturalmente que não devemos começar a matar gente, mas grande parte da cultura cívica é demográfica: não podemos continuar a viver hoje com as regras para a densidade populacional de há 200 anos atrás. E certamente que não com a mesma mentalidade.
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