terça-feira, 29 de março de 2005

Cartão do Cidadão

Uma das medidas prometidas pelo governo de Sócrates é a criação do Cartão do Cidadão, ou cartão único.

A medida tem indiscutível mérito. Os variados cartões faziam sentido no tempo em que, se se quisesse reunir num só documento as diversas informações, se necessitaria de um "cartão" quase do tamanho de uma folha A3 (ou se calhar maior).

Hoje em dia em que num chip não maior que uma moeda é possível guarda o Novo e o Velho Testamento completos, já não se justifica termos a carteira atulhada com tantos cartões que quase dá para jogar ao King.

Uma última reflexão para que argumenta que este sistema pode levar a que o cidadão fique reduzido a um número. Isto não ocorre. O número meramente identifica a pessoa. É como o nome, mas se calhar ainda melhor visto que, com o nome, temos a vantagem, ou desvantagem, de sermos identificáveis com outros com o mesmo nome. Ao menos o número é só nosso.

Para mais, hoje em dia a nossa pessoa já é plenamente identificada através de números. A diferença é que agora, em vez de a identificação da totalidade da nossa pessoa ser feita por UM número, cada aspecto da nossa vida é numerado. Não vejo grande diferença, e a que houver não me parece que seja para pior.

segunda-feira, 28 de março de 2005

Há coisas...

Lawrence Summers, Presidente da prestigiada Universidade de Harvard, levou um voto de "falta de confiança" por 218 contra 185 votos, dos professores da Faculdade de Artes e de Ciências.

Este ficou a dever-se a declarações de Summers que disse, por ocasião de uma conferência, que era por uma questão de difrenças intrínsecas que se viam menos mulheres do que homens a trabalhar nos mais altos níveis da ciência.

Apesar de várias vozes já terem vindo dizer que Summers não estava a ser machista mas sim a levantar uma mais que legítima questão académica, e apesar de este já ter pedido inúmeras vezes desculpa pelo comentário, ainda se fazem notar reflexos deste.

Fica uma lição para o futuro. As mulheres são diferentes dos homens. Certo. Mas há coisas que a ser ditas necessitam de ser ditas com muito tacto ou, por vezes, necessitam mesmo é de não ser ditas.

Women's International Networking

Nos encontros do Fórum Mudial Económico, em Davos, onde se encontra elite financeira e empresarial mundial os oradores são maioritariamente masculinos.
Descontentes com este cenário, um grupo de mulheres, lideradas por uma norueguesa de seu nome Kristin Engvig, decidiu criar o seu equivalente "feminino". Assim nasceu o W.I.N.Reunindo todos os anos em Lausana no Outono.

Não sendo uma organização exclusivamente reservada ao sexo feminino (permite a entrada de homens), dedica-se a estudar e sobretudo incentivar a cada vez mais activa participação das mulheres na sociedade e neste caso nas mais altas esferas do mundo financeiro-empresarial.

Já era tempo de se criar uma organização deste tipo. É um facto incontornável (goste-se ou não) que as mulheres estão a atingir a igualdade com os homens a nível de impotância social, económica e (em alguns países) política.

Mas as mulheres e os homens não são iguais, nem que seja só pelo modo diferenciado como cada qual dos sexos é ainda visto pela sociedade. Assim, é importante que organizações como estas surjam para inverter os pratos da balança. As mulheres se querem ser de facto assumir a mesma importância que ainda é dada aos homens no nosso mundo não devem imitar os homens, devem desbravar o seu próprio caminho, devem trazer novas formas de estar, novos formas de fazer.

Nesta "guerra dos sexos", as mulheres não ganham nada em combater fogo com fogo, devem, isso sim, combater fogo com água.

O Fim da Europa?

No dia 29 de Maio a França vai a votos.
Para aqueles mais distraídos, é necessário recordar que se trata do referendo à Constituição Europeia de uma das maiores economias da União, bem como um país que tem fortes ligações com a génese desta. Daí a importância do referendo francês. Não se pode fazer uma Europa sem a França.

O preocupante é que existe uma forte vaga a favor do não, da direita de Le Pen, até aos comunistas, até alguns dissidentes socialistas como Jean-Pierre Chevènement, ex-Ministo da Defesa de François Mitterrand e actual Presidente do MRC (Movimento Republicano do Cidadão).

O Direito à Vida

D. José Policarpo fez referência, durante a durante a homília pascal, a temas como o aborto (não posso com essa da 'interrupção voluntária da gravidez') e a eutanásia.

Ora, tem havido testes científicos mais que suficientes a justificar e a provar a existência de uma vida intra-uterina e, enquanto estudante de Direito, devo admitir que uma das poucas coisas que são juridicamente difíceis de justificar é a inexistência desta vida (embora existam preceitos neste sentido).

E a eutanásia? Questão muito debatida actualmente devido à decisão dos tribunais americanos de que fossem retirados os tubos que alimentam e hidratam Terri Schiavo, que confirmada ontem, dia 26, pelo juiz do círculo de Pinellas Florida George Greer. É um caso ainda mais complicado. Na eutanásia não se duvida da existência de vida, simplesmente se reconhece a falta de qualidade de vida e duvida-se, isso sim, da possibilidade de esta voltar a existir.

E creio que a questão é vista corretamente no caso da eutanásia, perspectiva que também deveria ser de alargar ao aborto.

O que se debate no aborto (ou se deveria debater) não é a existência, ou não, da vida intra-uterina. Esse debate é ridicúlo. Quer se possa dizer que dentro do útero já se tem um ser vivo ou não é irrelevante, pois ao fazer um aborto está-se sempre a tirar uma vida, quer seja por matar um ser vivo, quer seja por impedir que este se torne num ser vivo, o que aconteceria não fosse o aborto.

O que se deve debater é em que medida é que o nascimento da criança não afecta de tal maneira a qualidade de vida da mãe, o que como é óbvio se reflectirá na da criança, de maneira a que justifique o aborto? Isto sem falar que, muitas vezes podemos estar a falar de jovens, que ainda nem deixaram bem o seu papel de filhas, não estando ainda prontas para passar para o de mães.

Não quero com isto fazer crer que sou contra ou a favor do aborto ou da eutanásia. Creio que a avaliação deve ser casuística. Em certas situações serei a favor, em certas serei contra. Não me peçam que decida em abstracto o que só pode ser discutido no concreto.

Só faço uma excepção: sou contra utilizar o aborto meramente como meio contraceptivo.